domingo, 29 de setembro de 2013

‘Amor à vida’: Susana Vieira revela que sofreu para gravar surra de Pilar em Aline: ‘Eu apanhei muito do meu pai’

Susana Vieira conta que sofre para fazer cenas de briga: “Eu apanhei muito do meu pai” Foto: / Roberto Moreyra

Desde pequena aprendi que é de bom tom levar um mimo quando vamos visitar alguém pela primeira vez. Quando soube que Susana Vieira me receberia em seu camarim (ela é a única atriz a ter um espaço só seu nos estúdios de “Amor à vida”), perguntei à assessora dela o que eu poderia levar. “Susana adora empadinha de frango”, respondeu a moça.

Decidi seguir o inusitado conselho. Mas confesso que estava receosa: e se ela achasse que eu era puxa-saco? Por uma coincidência, Susana e eu nos esbarramos na entrada do estúdio. Antes do “boa tarde”, fui pega de surpresa com a pergunta: “Isso aí é empada?”. O cheiro me entregou. A atriz estava de frente para mim, loura, linda e poderosa como aparece todas as noites na pele de Pilar, apontando para a caixa na minha mão. “Sim. 

De frango. E são para você”, respondi. Susana abriu um sorriso, tirou a caixa da minha mão e disse, quase como uma confidência: “Adoro as de frango! Obrigada”.
É comum ouvir que “Susana Vieira é gente como a gente”. Mas ela não é. Susana é diva. É poderosa. Mete medo. Tem opinião sobre tudo mesmo quando diz que não tem e fala o que pensa sem medo. Confira a seguir uma entrevista sincera e reveladora com essa grande atriz.

Os telespectadores pediam para Pilar bater em Aline (Vanessa Giácomo). Essa reação te surpreendeu?

Fiquei espantada de ver como as pessoas estão violentas! Não sei por que as pessoas gostam tanto de briga de mulher com mulher na televisão. Eu não sei... Eu acho difícil de fazer. Nunca briguei fisicamente na minha vida. Não bati nem no meu filho (Rodrigo, de 46 anos). Eu apanhei muito do meu pai e isso me marcou demais. Ainda fico profundamente chocada quando lembro do quanto sofri. Então, o fato de eu bater nela (na Vanessa) foi difícil pra mim. Eu não queria que essa cena chegasse nunca. Não gosto de sequências de briga física.

Esperava essa torcida do público pela Pilar?

Quando entro numa novela, não estou a passeio. Entro para valer, para o público me amar. Tenho tantos anos de profissão e de TV Globo que sinto nas ruas a simpatia do público por mim. Nunca imaginei que eu passaria despercebida porque eu não vim nesta Terra para passar despercebida.
Mas a Pilar mostra que prefere o Félix (Mateus Solano) a Paloma (Paolla Oliveira)...
Primeiro, sou uma mãe de família com quem a maioria das pessoas se identifica. E segundo, sou uma mãe que adora um filho gay. São raros os casos em que a mãe rejeita o filho gay. Se você for num presídio vai ver milhares e milhares de mulheres sozinhas. Pai nenhum. É a mãe que está lá. Fora que a rejeição da Pilar com a Paloma é normal. Ela é filha da amante do marido! E vamos falar a verdade: Paloma, no começo da novela, era muito da rebeldinha, muito da malcriada, tinha um temperamento muito forte. Mas o que a Pilar quer é uma família unida, uma mesa cheia, que acho que é o sonho da maioria das pessoas.

Você tem isso da Pilar também?

Demais! Adoro família, todo mundo junto, mesa de natal cheia de gente. Junto na minha casa todas as minhas pessoas. Vai ex-marido, ex-sogra, vai gente que se dá bem com gente que não se dá. Rezamos todos um Pai Nosso e agradecemos a Deus.

Em que a Pilar é diferente de você?

Ela é mais comedida. Em cena, estou falando mais baixo, estou fazendo um personagem mais contido. Isso para mim também foi muito bom como atriz, é um tipo diferente daquelas mulheres que eu fazia. Apesar de nossas diferenças, acho que estou adequada no personagem. E numa novela em que sou casada com o (Antonio) Fagundes e filha da Nathalia Timberg, eu não poderia ser rejeitada. Eu ia chorar muito se isso acontecesse.

Muita gente considera antológica a cena em que o César rejeita Félix por ele ser gay. Muitos homossexuais comemoraram o fato de Walcyr Carrasco escancarar o preconceito em horário nobre. Você considera essa sequência um marco na sua carreira?

Não. Não causou nenhum impacto para mim porque sei que é assim que as coisas acontecem. Aquele pai é normal. Devem existir milhões de pais como o César, querida. Não é normal um pai falar: “Ai, que delícia, eu tenho um filho gay”. Pai nenhum vai falar isso, gente! César é machão, veio de uma família tradicional. Para mim, aquela reação foi normal. Não é possível que alguém achou que seria diferente! Walcyr escreveu exatamente como acontece. Não entendi a surpresa das pessoas!

Acredita que Pilar possa não ser tão boa?

O Walcyr, a cada momento, bota uma frase ali no meio do capítulo e o público em casa fica louco. E isso faz muito sucesso nessa novela. Mas não acho legal, por exemplo, a Amarilys (Danielle Winits) se meter na vida dos gays (Eron e Niko, vividos por Marcello Antony e Thiago Fragoso). Ela é uma cobra! Gostaria que o casal fosse feliz, que eles mantivessem a família, e não que o Eron ficasse sambando daqui pra lá, com um homem aqui, a mulher ali. Sou uma mulher que acho que tem que haver amor, respeito e fidelidade numa relação. Sempre. Então, por isso, acredito que não tem por que a Pilar ter feito alguma maldade, ela é boa, amorosa, família. Mas se eu tiver que fazer alguma coisa errada eu vou fazer porque eu obedeço o autor. Só acho um pouco... (pausa). Nada. Não acho nada estranho. Eu aceito o que o Walcyr escreve.

Você não dá pitaco no seu trabalho?

Não, nunca. Quero morrer fazendo novela, quero estar no Projac todo dia. É muito raro eu fazer um papel que eu não goste. Tenho uma carreira muito boa, vitoriosa. Eu posso julgar o outro personagem da novela. Posso opinar como telespectadora porque assisto à novela. Mas não me questiono sobre como eu faria se eu estivesse no lugar da Pilar. Se sou burra e otária na novela, o que eu vou fazer? Quantas vezes eu já não devo ter sido burra e otária na minha vida? Quem nunca foi? Se a gente fosse sabido, minha filha... A gente não fazia a metade das merdas que a gente faz. Eu também não especulo o meu personagem porque acho que interferiria. Sou muito forte, uma atriz com muito tempo de trabalho, com muita tarimba. E se eu fosse começar a brigar talvez eu passasse por cima do autor e não faria isso nunca. Vejo muitos atores mudando os personagens. Canso de ver isso nas novelas. O autor vai por um caminho, o ator se defende e vai por outro. Problema deles. Eu vou pelo caminho do autor.

Teve uma cena em que você falou “Féliquis” de forma pausada e, no fim, deu um sorriso maroto. Aquilo foi uma resposta às críticas que recebeu pelo seu sotaque e o modo como fala o nome dele?

Não, de jeito nenhum. Nunca faria isso se não fosse mandada a fazer! Aconteceu o seguinte: eu não consegui tirar o meu sotaque carioca. Fiz dez aulas e continuei falando “Féliz”. O Maurinho (Mauro Mendonça Filho, diretor geral da novela) disse para a professora: “A Susana tem carisma, tem talento, deixa desse jeito mesmo”. Falei para ele pedir para o Walcyr incluir num texto que a Pilar era do Rio. Só que eu chego aqui gritando “Féliz” para o Mateus (Solano) e o elenco inteiro ri. Nesse dia da cena, o Mauro mandou eu falar desse jeito, mais lento, para brincar com o povo aqui no estúdio. Eu nunca teria coragem de fazer isso. Morro de medo de diretor. Eu não quero levar bronca, não. Deixa eu te explicar uma coisa, minha querida, não coloco caco no texto, não reclamo de esperar para gravar. Dou graças a Deus pelo meu trabalho.

Como é a sua relação com os atores mais jovens?

Eles me adoram porque eu não sou vovó, falo palavrão, falo de homem, adoro uma balada e sempre caso com homem mais jovem. Além disso, quando entro em cena eu quero ajudá-los, quero que se tornem bons e que não me atrapalhem. Só tenho problema com ator que não decora texto e que chega atrasado. Também fico irritada quando vejo gente novinha incomodada porque a gravação está demorando, porque vai perder o horário da festinha. Eu falo mesmo: “Queridinho, você só vai fazer baile de 15 anos porque está aqui, na novela, na Globo. Seu primeiro trabalho é esse aqui. O jabá fica para depois”. Se pego atorzinho de frente para roteiro reclamando, eu falo. Aí sai notinha depois (na imprensa) dizendo isso ou aquilo. Mas não tenho que falar? Isso é um absurdo mesmo!


Nenhum comentário:

Postar um comentário