
Raspar ou não raspar, eis a questão. Esse foi o dilema de Marina Ruy Barbosa que acompanhamos no decorrer da última semana. No ar em "Amor à vida" como uma doente terminal de câncer, a atriz saiu vitoriosa da disputa travada com o autor Walcyr Carrasco. Ele queria vê-la raspando os fios numa cena que já tinha sido escrita. Ela, que acaba de completar 18 anos, sofria com a possibilidade.
O embate levantou questões: até que ponto um ator deve abrir mão da vaidade por um personagem? Amor à arte tem limite? Nos bastidores da novela das nove, o elenco se dividiu, mesmo que em silêncio.

Quem já passou pela mesma experiência defende Marina, principalmente por causa da pouca idade da atriz. É o caso de Letícia Spiller, que ficou carequinha para a peça "O falcão e o imperador": "Talvez quando ela estiver mais madura, numa próxima ocasião, e puder ter essa liberdade, ela possa vir a fazer. Cada um tem o direito de fazer o que bem entende com o seu corpo".

Cristiana Oliveira, que engordou 25 quilos para viver uma detenta na novela das nove “Insensato coração”, acredita que Marina é muito nova para tamanha responsabilidade. “Quando engordei, eu tinha 47 anos e 24 de carreira. Achei que seria bom para a personagem, e não me arrependo. Se eu tivesse que fazer isso com 18, talvez não toparia. Entendo perfeitamente a angústia da Marina. Mesmo que ela tenha se comprometido a raspar a cabeça, é natural ela ter esse tipo de conflito agora. Se ela aceitou a personagem acreditando que iria ter coragem de cortar o cabelo, é absolutamente compreensível que agora tenha essa crise emocional e desista. Acho que as pessoas deveriam parar de criticá-la, porque é fácil apontar o dedo para outra pessoa sobre algo que só ela sabe o que está vivendo”.
Para Marcos Caruso o corpo do ator é como uma massa de argila a ser moldada pelo personagem. “Em ação, ele não lhe pertence. Só ao personagem que está interpretando”, opina.

Camila Morgado, que raspou a cabeça para o longa “Olga”, diz que que não faria de novo o sacrifício. “Fiz porque me apaixonei pelo personagem. O mais importante é respeitar os seus limites. Cada um sabe até onde vai o seu”.

Vera Holtz, a dona Redonda de “Saramandaia”, afirma que o ator precisa ter flexibilidade, mas também ser bem cuidado. “O ator tem que ser tratado com muito carinho. Ninguém tem o direito de não cuidar da sensibilidade de um artista”.

Fernanda Souza teve que engordar sete quilos para viver a personagem Carola em “O Profeta”, e emagreceu rapidamente em seguida para interpretar a gostosona Isadora em “Toma lá dá cá”. A atriz defende Marina e evita alimentar a polêmica. “Marina é quem deve explicar se recusou de fato. No meu caso, foi um aprendizado como mulher e profissional”.
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