quinta-feira, 29 de maio de 2014

Imoralidade dos protagonistas de “Em Família” afasta a classe C

Romance do casal não está sendo bem visto
Romance do casal não está sendo bem visto pelo público
A baixa audiência de “Em Família” faz com que muitos se manifestem e apontem os possíveis motivos para que haja a rejeição por parte do público. Um dos pontos destacados pelo jornalista Daniel Castro é que a trama não representa a sociedade contemporânea, ignorando as classes populares.
Os estereótipos dos pobres e a falta moralidade aos protagonistas afastam ainda mais o público, sendo um dos principais problemas apresentados por dois especialistas no assunto. O folhetim chega ao centésimo capítulo hoje (29) com a pior audiência de uma novela das nove, abaixo de 30 pontos.
E a situação parece não ter expectativa de melhora. “A novela está fechada em um mundinho que não tem a ver com o de quem assiste o folhetim”, diz Maria Cristina Palma Mungioli, pesquisadora do Centro de Estudos de Telenovela da Escola de Comunicação e Artes da USP (Universidade de São Paulo).
A situação está difícil e é quase impossível que consiga virar o jogo na reta final. Igor Sacramento, professor da Escola de Comunicação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), diz que o Leblon de Manoel Carlos e seus personagens ricos e egoístas ignoram a classe C, fator que afasta o público.
“Depois de duas tramas bem construídas com trabalhadores, como Avenida Brasil e Cheias de Charme, a sensação que tenho é que a concepção dos pobres em Em Família é estereotipada. O personagem que representa o pobre, o Jairo [Marcello Melo Jr.], é malandro e violento”, observa o professor.
O professor afirma que, para as classes populares, a novela não faz sentido, pois não passa valores do que é certo ou errado e não explora problemas socioeconômicos. “A novela não é crível, falta contato com a realidade em suas tramas. Na construção da narrativa, nada parece verdade”, fala Sacramento.
“Ninguém tem problema financeiro. A Neidinha, por exemplo, é uma cuidadora. Ela não fala em comprar uma casa própria ou em como vai pagar a faculdade e as despesas da filha. Tudo gira em torno da Helena e os conflitos se arrastam. Demoram muito para serem resolvidos”, explicou Maria Cristina.
A questão moral também gera rejeição. Laerte (Gabriel Braga Nunes) não sente remorso pelo que fez no passado, dizendo que pagou sua conta com a Justiça. Luiza (Bruna Marquezine) só pensa nela mesma. Amar o homem que deixou sua mãe no altar após enterrar seu pai vivo deveria ser um grande conflito.
“Todo mundo só pensa em si. A Luiza só diz eu, eu, eu e minha felicidade. Passa por cima de uma grave questão como se tudo fosse muito natural. A Helena e o Laerte também só pensam neles mesmos. O Virgílio culpa a mulher por não superar o passado, mas, quando vê o inimigo, parte para cima dele. Ele se contradiz”, comenta a pesquisadora da USP.
As características de Manoel Carlos não estão sendo bem desenvolvidas. O autor inseriu o triângulo amoroso entre Laerte, Luiza e Helena, mas o músico não demonstra interesse na ex-noiva. A filha não surge em nenhum diálogo questionando sua escolha. “Isso tinha de ser mais conflituoso”, diz Maria Cristina.
O novelista sempre fez ótimas campanhas sociais, como a de transplante de medula óssea em “Laços de Família” (2000) e contra os maus-tratos aos idosos em “Mulheres Apaixonadas” (2003). No entanto, na novela “Em Família”, ele levantou bandeiras, mas não seguiu adiante retratando o assunto.
O transplante de órgãos e a violência sexual contra mulher foram dois temas abordados, mas superficialmente, Manoel Carlos não se aprofundou em nenhum. “A novela chegou ao capítulo 100 sem conseguir repercussão dos temas polêmicos que propôs discutir na TV”, declara Sacramento.

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