BRUNA LOMBARDI (FOTO: CARLOS ALBERTO RICCELLI)
Bruna Lombardi é amiga da fama e garante que a notoriedade só lhe trouxe coisas boas: acolhimento, chance de conhecer o mundo, dinheiro. Era campeã de cartas na TV Globo antes mesmo de estrear na emissora. Ainda recebe convites para voltar à televisão, da qual está afastada desde 2002. É parada por fãs, que clamam por sua volta. Vídeos em que aparece, seja defendendo a adoção de cachorros ou dando dicas de como economizar água, são visualizados por milhões. A página recém-criada no Facebook, em que transmite “mensagens positivas”, tem um milhão e meio de curtidas e um alto engajamento: ou seja, o internauta comenta, interage. E os comentários, que chegam a mais de cem mil por semana, são, surpresa nos atuais tempos, positivos. Outro dia, a mãe de um menino contou à atriz, produtora e escritora, no meio da rua, que a criança era fã da página: “Mamãe, a Bruna escreve essas coisas para deixar a gente feliz, não é?’’ E ainda nem se falou do Instagram, criado por ela “há minutos”, onde vem exibindo forma invejável, com direito a piercing no umbigo. Aos 63 anos. As fotos postadas, feitas pelo marido, Carlos Alberto Riccelli — autor das imagens que ilustram este perfil —, são em sua maioria atuais e sem retoques, ela afirma. Os dois adoram brincar de fotógrafo e modelo, e as poses comportadas acabam evoluindo para outras mais sensuais. Natural, dizem marido e mulher, de um casal “que faz tudo junto, se curte e cuja relação fica cada vez mais gostosa”.
Bruna só não é amiga dos números.
— Tenho uma relação quase infantil com o tempo. Eu e Ri nunca sabemos dizer há quantos anos estamos juntos, não celebramos datas. Não me ligo em idade. Tenho 63. E daí? Não significa nada. Eu acho envelhecer um privilégio. As pessoas que não envelheceram é porque se foram. Então, eu penso: que outra opção eu tenho? Eu não posso me responsabilizar por números — filosofa Bruna, na intimidade de sua casa no bairro do Morumbi, em São Paulo, onde recebeu a equipe com um bolo feito de ingredientes orgânicos e sem manteiga.
BRUNA LOMBARDI (FOTO: CARLOS ALBERTO RICCELLI)
A responsabilidade vem nesta nova e “inesperada” fase de sua longa carreira. Com o sucesso do que diz e mostra nas redes sociais, Bruna recebeu um convite da editora Sextante e lança, até o fim do ano, um livro baseado nas mensagens que posta — já é autora de outros oito. Além disso, prepara um portal chamado Rede Felicidade, no qual pretende “traduzir o que falo no Face, no Instagram, nas entrevistas”. É ela quem escolhe cada frase, mensagem e foto. A nova fase começou meio que por acaso, há cerca de um ano. Devido à grande quantidade de páginas falsas em seu nome, ela resolveu criar uma verdadeira. E começou a postar o que pensava sobre a vida. Os textos são dela ou de pessoas que deseja homenagear, como o amigo Mario Quintana, “de quem fui próxima até o fim da vida”. “Simples assim’’ e “Veio de uma forma muito orgânica” são frases que gosta de repetir:
— Tenho uma caixinha em que guardo essas mensagens desde meus tempos de menina, sempre gostei de escrever. Agora não posso ficar um dia sem postar, as pessoas cobram, dizem que precisam disso. Mas não vejo isso como um peso. Gostaria de dizer para as pessoas que elas conseguem ser felizes e positivas com mais facilidade e que não precisamos ser essa geração tarja preta.
Amigos e família dizem que Bruna sempre foi assim: feliz, leve, simples. A diferença agora é que esse seu lado tornou-se público.
BRUNA LOMBARDI E CARLOS ALBERTO RICCELLI (FOTO: CARLOS ALBERTO RICCELLI)
— Além da beleza, ela é uma das mulheres mais inteligentes que conheço e sempre teve isso de se interessar pelos outros e pelas grandes causas. Bruna tem credibilidade, nunca intimidou o espectador, as donas de casa não ficavam com raiva, apesar da beleza. Tenho encanto eterno por ela — diz José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que levou Bruna para a TV (a estreia foi na novela “Sem lenço, sem documento”, em 1977).
Àquela altura, já havia estampado as maiores revistas do país, como modelo. Um dos primeiros convites veio de Costanza Pascolato, que a conhecia desde criança, da comunidade italiana de São Paulo (Bruna nasceu no Rio, mas mudou-se para São Paulo ainda pequena), e editava a “Claudia”.
— A gente vivia atrás de rostos novos. Como ela era baixinha (tem 1,60m e não faz ideia de seu peso) e sem estrutura de modelo, o plano era sempre americano. O rosto dela era arrasador, e ainda é. Um dos olhares mais bonitos que já vi — diz Costanza que, ao ser indagada sobre o cabelão de Bruna, apesar de a moda ditar que isso não cai bem em mulheres acima dos 40, comenta: — Ela pode. E que sorte a dela!
No dia da entrevista e da sessão de fotos para a Revista O GLOBO, Bruna foi ao salão. Fez uma escova e arrumou as unhas. A manicure lhe deu boas-vindas, já que há semanas ela não aparecia por lá. O cabelo comprido, diz, ela mantém por ser mais prático:
— Não tenho que ficar cortando toda hora, quando está sujo ou desarrumado enfio um lápis e prendo.
O marido acha sexy e brinca com ele nas fotos, tiradas sempre em casa. Na intimidade. Os três — ela, Riccelli e o filho dos dois, Kim, de 30 anos — vivem entre São Paulo e Los Angeles, cidade para onde se mudaram em 1993 “atrás de desafios, de estudo”. Bruna tem consciência de que fez escolhas para muitos duvidosas: ela e o marido eram protagonistas absolutos na TV e resolveram investir em cinema fora, cujo retorno financeiro “não era mais o mesmo”. Mas garante que nunca se arrependeu e que tomar esta decisão “foi zero difícil”.
BRUNA LOMBARDI (FOTO: CARLOS ALBERTO RICCELLI)
— Cada um tem uma fórmula e faz o que tem vontade. Mas para a minha evolução estava o desconhecido, o novo. Sempre fomos uma família impulsiva, e somos até hoje. Meio coração de estudante — comenta Bruna, que ainda não pensa em ser avó e nunca quis ter outro filho. — Sempre quis só um. Somos muito ligados, sempre achei que um triângulo, no nosso caso, seria mais harmônico.
Apesar de não lembrarem as datas, ela e Riccelli estão juntos desde 1978, quando protagonizaram, na TV Tupi, a novela “Aritana”. As gravações eram numa aldeia no Xingu e os dois não se desgrudaram desde então. É essa cumplicidade que, para eles, mantém o tesão do casamento.
— Nossa relação é leve. O amor está cada vez melhor em todos os aspectos porque evoluímos e crescemos juntos. E a Bruna é linda, continua linda — atesta rapidamente Riccelli, que chega enquanto a mulher posa para as fotos, pede ao fotógrafo para ver as imagens e dá dicas de como Bruna deve posar.
Ela acata o marido e sussurra: “Ele é muito exigente com isso de imagem.” Quando fala sobre “Ri’’, seus olhos ficam ainda mais azuis. Diz não saber o segredo de manter a relação boa. Culpa a parceria, o fato de os dois terem “muita coisa em comum”. Desde o trabalho com cinema — a dupla estreia em janeiro mais um filme, “Amor em Sampa” — à paixão pelo ofício, pelo filho, pelas casas, pelos cães, pelos livros, pelas séries de TV, que “veem em maratonas nos fins de semana”. A dupla fará ainda uma série para a TV paga, projeto mantido em segredo, “por contrato”. O amor e o sexo “cada vez melhores” talvez venham pela maturidade e cumplicidade do casal. Mas certamente ajuda o fato de ainda serem muito atraentes.
— Temos a genética a nosso favor. Genética e isso da energia que flui, acredito muito nisso. Se você elogia o meu corpo, você tem que ver o do Ri. O dele resiste a um close, o meu não é tão bom assim, não — ri Bruna, que mantém uma rotina de exercícios.
Faz musculação, em casa ou numa academia perto, no máximo três vezes por semana. Com mais frequência pratica hatha ioga. Jura que nunca fez plástica e nem preenchimento labial:
— Deus me livre de ficar com a boca dura.
O que Bruna faz de vez em quando é botox e um laser, descoberto por ela recentemente, para estimular a produção de colágeno. Dorme bem, pesado. Hidrata a pele e sempre tira a maquiagem antes de ir para a cama. O cabelão não recebe cuidados especiais. Bruna olha o rótulo dos produtos de beleza e rejeita os que são testados em animais:
— Não como carne, só peixe de vez em quando. Aqui em casa só entram orgânicos, acho que isso também ajuda, porque beleza é saúde.
A paixão por animais é um capítulo à parte em sua vida — e na popularidade nas redes sociais. Bruna tem três vira-latas pegos na rua, Tom, Tango e Amora, e sempre fala sobre animais em posts.
— Ela não pode ver um cachorro, um gato, até um lagarto no meio da rua que quer logo adotar — diz o filho, Kim Riccelli, que, ao lado do pai, dirige a mãe em “Amor em Sampa”; os três são sócios na produtora Pulsar, que faz trabalhos no Brasil e nos Estados Unidos.
Bruna foi uma mãe “carinhosa, presente e que sempre optou pelo diálogo’’.
— Ela me falava quando eu era mais novo: “Kim, você está passando por isso pela primeira vez, mas eu também. Vamos tentar resolver juntos?” Isso ajudou nessa cumplicidade que nós três temos — conta o jovem, que acha o máximo esta nova fase da mãe: — Quem convive com ela sempre soube que ela era incrível e linda desse jeito, agora o mundo sabe. Tenho um baita orgulho dela.
Bruna é amiga de alguns políticos, mas não gosta de falar sobre política. Apareceu, em 1978, ao lado de Fernando Henrique Cardoso na campanha dele para o Senado por São Paulo, depois que ele voltou do exílio. Participou ativamente da campanha pelas Diretas. Em 2012, apoiou José Serra para a Prefeitura de São Paulo. Segundo rumores da semana passada, ela se filiaria ao PSDB, o que prontamente negou.
— Nunca vou me filiar. Sou apartidária. Sou procurada por vários partidos, mas sempre digo o mesmo. Gostaria que a política combatesse essa crise toda que está aí, lutando por causas independentes, olhando mais para as cidades e para as comunidades. A distorção, a corrupção, a desigualdade são gigantes, e aceitamos tudo de maneira tão natural. Será preciso passar essa arrebentação para enxergar o mar — comenta.
Cinema, eventos, livro, portal, redes sociais, série para a TV a cabo. Não sobra tempo para voltar à TV aberta, “tenho o maior carinho por ela, me deu papéis inesquecíveis como a Diadorim (de “Grande sertão: veredas”, de 1985). Mas, por enquanto, não faz parte dos meus planos”. O que deixa o humorista Agildo Ribeiro inconsolável. Criador do bordão “Brrruuuna”, Agildo conta que fãs ainda pedem para ele repetir a pronúncia, surgida pela primeira vez no programa “Planeta dos Homens”, no fim dos anos 70. Para Agildo, “o tempo passa, mas Bruna fica”.
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