Novelas traduzem a realidade?
Há muitos séculos, a instituição familiar é valorizada como a principal da sociedade, e durante muito tempo se lutou contra as imoralidades e os maus costumes em nome da família. Os tempos estão outros, os indivíduos mudaram e foram se fechando ainda mais, e com isso a família aparentemente perdeu a força. Porém, é com as novelas que podemos analisar melhor como anda o comportamento dos brasileiros.
O maior exemplo de como a família faliu ainda é “Amor à Vida”. Para uma pessoa do lado de fora, a família Khoury é perfeita: um patriarca caridoso, uma esposa amável, dois filhos formados, netos e familiares anexos morando todos na mesma casa. Porém, isso é apenas a casca da relação familiar. César é preconceituoso por não aceitar a homossexualidade do filho e hipócrita por usar o discurso de aceitação (mas só com os outros), Paloma tem surtos de egoísmo, Félix é corrupto e todos os relacionamentos na casa envolvem traição e jogo de poder.
Pensando em “Amor à Vida” como um todo, nenhuma “família” é um exemplo positivo: a família do núcleo hot-dog também é ditada pelas aparências e pelas mentiras, a família de Denizard é outra que apenas aparenta a “normalidade” e a família de Niko e Eron é envolvida por mentiras (detalhe que a homossexualidade dos dois não é a causa do péssimo exemplo familiar, e sim de suas atitudes). Sempre nos ensinam que a família é em quem devemos confiar e lutar, mas como se importar como uma família dessas, com suas mentiras e relações desajustadas?
Com esse texto não é a minha intenção falar “matem todos os seus familiares e vivam como ermitões”, porque na verdade quero mostrar como a instituição familiar precisa evoluir para se adequar às nossas novas necessidades.
Não é assunto para um blog de novelas, mas o seriado americano “The New Normal” mostra muito bem qual é a família do século XXI, composta por um casal homossexual, uma mulher barriga de aluguel, sua filha e sua mãe. Esta representa na série o ponto de vista conservador, daqueles que “luta pela moral e pelos bons costumes” enquanto se nega a ver a felicidade de todas aquelas outras pessoas. Na verdade, a verdadeira família é aquele lugar onde podemos encontrar pessoas que sejam nossos refúgios, que nos entendam e que nos aceitem.
Nesse caso, sua família pode ser seu pai e sua mãe, mas também pode ser um grupo de amigos, seu parceiro(a), o trabalho… você precisa se sentir bem, e essas pessoas precisam gostar de você. “Sangue Bom” tem um exemplo maravilhoso desse novo tipo de família, pois podemos falar que toda aquela rua funciona como uma grande instituição familiar. Todos se gostam, se cuidam e resolvem seus problemas entre eles, independente do que aparentam, da orientação sexual ou da renda.
Enquanto as pessoas continuarem lutando em favor da família tradicional, pela moral e pelos bons costumes, teremos muito mais Khourys que moradores da Casa Verde.
Portal POP – Coisas de Novelas – Fábio Garcia
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