domingo, 12 de maio de 2013

Salve Jorge: "Nanda Costa foi um tiro certeiro', afirma Gloria Perez


Gloria Perez falas das críticas que recebeu por ‘Salve e Jorge’ e diz que sua protagonista brilhou
Gloria Perez falas das críticas que recebeu por ‘Salve e Jorge’ e diz que sua protagonista brilhou Foto: Raphael Dias/Rede Globo/Divulgação

Depois de diversas críticas, números baixos (com capítulos que amargaram média de 25 pontos de ibope), discussões calorosas no Twitter entre autora e telespectadores saudosos de “Avenida Brasil”, “Salve Jorge” ganhou fôlego na reta final, alcançando 45 pontos de audiência. Animada com os resultados, Gloria Perez conversou com a Revista Canal Extra. A autora não foge das polêmicas, não se furta de apontar seus erros e destaca Nanda Costa como um grande acerto. Ela fala também sobre as críticas que tomaram conta das redes sociais nos últimos meses. “Uma novela é sucesso quando desperta sentimentos fortes: amor, ódio, vale tudo aí. Só não vale a indiferença”, afirma ela.
Confira a seguir a entrevista:

CANAL — No início, você já sabia como a trama ia terminar ou ela mudou com o tempo?

GLORIA PEREZ — Novela é obra aberta: a sinopse é sempre uma diretriz, um ponto de partida. No decorrer do processo, você sempre redesenha caminhos. Mas em linhas gerais, eu sabia aonde queria chegar, e cheguei.

A maior campanha social da novela foi falar sobre o tráfico internacional de pessoas, que mobilizou o país e repercutiu fora do Brasil. O objetivo foi cumprido?

Tenho trabalhado sempre nessa linha de divertir e levantar discussões a respeito de problemas que afetam a sociedade. Sinto orgulho dessa característica das minhas novelas, de dar voz a quem não tem, e de que elas consigam interferir na realidade de maneira positiva. Quando comecei a falar desse assunto, percebi que bastante gente achava que era uma coisa fantasiosa, apesar das campanhas que já eram feitas aqui e do mundo inteiro priorizar o problema, conhecido como a escravidão do século 21. Obama foi à ONU falar do assunto, o Papa o destacou no seu discurso de posse. No começo do ano, fiquei sensibilizada com uma operação da Polícia Federal iniciada a partir de uma ligação de uma telespectadora, que culminou no resgate de brasileiras em Madri. Isso não tem preço.

Você se envolve pessoalmente com essas vítimas?

Acompanho diversas histórias e converso com vítimas pessoalmente, por Skype e por e-mail desde o início da pesquisa para a novela. Os relatos são extremamente emocionantes e me alimentei deles para escrever a trama de Morena (Nanda Costa): dos sentimentos que descreviam, das vivências que tiveram durante seu cativeiro. O mesmo aconteceu com a história de Aisha (Dani Moreno): conversei com muitas pessoas que foram traficadas quando eram bebês e agora procuram suas famílias.
A autora entre dois destaques de sua trama: Dira Paes e Nanda Costa
A autora entre dois destaques de sua trama: Dira Paes e Nanda Costa Foto: João Miguel Junior/Rede Globo/Divulgação
A química entre Théo (Rodrigo Lombardi) e Morena foi bastante comentada, e Nanda Costa foi uma aposta sua. Você se sente orgulhosa pelo acerto, já que muita gente não acreditava nessa escolha?

Alguém tinha dúvida quanto à química dos dois depois daquele primeiro encontro? A Nanda teve uma interpretação magistral, compondo uma típica garota dos morros e vivendo a saga de uma vítima de tráfico humano. Quando a escolhi, não considerava uma aposta, mas um tiro certeiro: e foi.

Wanda (Totia Meireles) roubou de Lívia (Claudia Raia) o título de a grande vilã da novela. Esse crescimento da personagem era algo previsto?

Claro que sim: Lívia era uma vilã blindada por uma imagem social. Wanda punha a mão na massa. São dois tipos absolutamente necessários para falar de uma máfia.

Nos últimos tempos, virou moda o telespectador ver a novela e comentar ao mesmo tempo nas redes sociais. Na maior parte do tempo, eles criticam. Parece que o brasileiro ama odiar “Salve Jorge”. Isso incomoda você?

Para mim, essa é uma experiência bem antiga: lembre que eu fiz a primeira novela interativa, sou do tempo da BBS (canal de comunicação por meio de mensagens instantâneas, anterior à internet), e já escrevi “Explode coração”, em 1995, interagindo com o público. Mas na internet de hoje fica mais complicada essa avaliação, porque tem excesso de fakes, trolls (pessoas que provocam discussões sobre determinados assuntos), panfletagens orquestradas… É preciso saber filtrar. Essa coisa de amar ou odiar não me incomoda. Uma novela é sucesso quando desperta sentimentos fortes: amor, ódio, vale tudo aí. Só não vale a indiferença.

Você foi ousada ao criar um mocinho que, além de ter traído Érica (Flávia Alessandra) com três pessoas — Márcia (Fernanda Paes Leme), Morena e Lívia —, foi para a cama com a assassina da novela por interesse. Esse movimento contra Théo era o que você queria ou se arrependeu de ter escrito essa trama?

Teria feito exatamente do mesmo jeito. Esse movimento contra o Théo só quer dizer que a história mexeu, provocou emoções, e é isso que eu busco. Além do mais, o Théo é humano, e humanos fazem coisas assim. Acertam, erram, se atrapalham… e dão a volta por cima! Espelho incomoda.

Durante todos esses meses, Morena não apareceu com nenhum homem. Não houve nem cena insinuando que ela tivesse acabado de se prostituir. Não mostrar a sua protagonista transando com um cliente foi proposital?

Sempre esteve subentendido que Morena era obrigada a se prostituir na boate. Porém, como lidamos com um tema difícil como o tráfico humano e precisava torná-lo palatável para o público durante tantos meses de novela, não dava e eu nem precisava mostrar tudo explicitamente. Para quem se interessar em ver esse tema abordado de uma maneira crua, o que é impossível em uma novela, eu recomendo o filme “Tráfico humano”. Difícil de assistir, mas se é o explicito que se busca, está lá, sem maquiagem.

Vários atores desapareceram e muitos outros fizeram o que se chama de ponta de luxo. Você chegou a se sentir culpada por não conseguir desenvolver a história de todos os personagens?

O tráfico internacional de pessoas era o tema da novela. É claro que teria o maior espaço. Muitos atores entraram para fazer pequenas participações e já sabiam disso. Talvez tenha sido um erro escolher nomes maiores para papéis pequenos, como se faz no cinema. Mas tudo estava previsto para ser como foi. Quanto ao número de personagens, não foi maior do que a média que sempre se utilizou nas novelas. Experimenta ir às páginas delas e contar.
Leia a entrevista na íntegra amanhã, na Revista Canal Extra.


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