CENA DE 'AMOR À VIDA' (FOTO: REPRODUÇÃO)
O capítulo de estreia de uma novela serve à apresentação de seus personagens. Mas não só ele. O gênero é reiterativo por excelência. Uma trama lista seus trunfos todos os dias, como se fosse um mantra. Por exemplo, anteontem, em “Amor à vida”, Pilar (Susana Vieira) visitou Amadeu (Genézio de Barros) e Neide (Sandra Corveloni). Disse para ele: “Eu te amo. Você é meu único irmão”. O público que está ligado na história desde o início já sabia da ligação familiar: Neide esteve no hospital com a cunhada quando César (Antônio Fagundes) estava internado. Só que alguns esquecem. Outros são retardatários. A repetição é, portanto, imprescindível. Poucas cenas adiante, à mesa com a família, Pilar voltou a dizer tudo de novo, agora para o marido. Explicou que esteve com o irmão, que ele está desempregado e quer ajudá-lo, que a cunhada é professora, mas não pode trabalhar por causa da filha autista etc.
Tudo isso é chato para os mais atentos? Depende. Uma das missões do bom autor é fazer com que as explicações sejam fornecidas com grande naturalidade, a ponto de ninguém notar. Se a ação estiver envolvendo o telespectador, é exatamente o que acontece.
Da mesma forma, uma produção para a TV aberta que alcança as massas — como só as novelas fazem — não pode viver de sutilezas sob pena de não ser compreendida. Estão dizendo, por exemplo, que Félix (Mateus Solano) desmunheca demais para um homossexual que esconde sua condição. Basta conferir o Twitter no horário em que “Amor à vida” está no ar para constatar isso. “Ele usa a expressão ‘deu a Elza’ e ninguém desconfia?”, pergunta um; “ele escolhe o sapato da mãe e acham natural?”, pergunta outro. Pois é. Como diz o provérbio popular, água mole em pedra dura...
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