RIO – A mesa onde Elizabeth Jhin escreve “Amor eterno amor” tem
lugar de destaque na sala do flat usado pela autora para trabalhar, de segunda
a sábado. É lá, perto do seu apartamento, no Leblon, que ela passa a maior
parte do tempo concentrada nos capítulos do folhetim das 18h — só volta para a
casa aos domingos. Sentada diante da tela do computador, a escritora promete
movimentar a história com a aguardada chegada de Elisa (Mayana Neiva), esta
semana. Em sua terceira novela solo para a Globo, Beth, como costuma ser
chamada, conta que o trabalho consome praticamente todo o seu tempo. E afirma
que o horário nobre não é sua ambição.
— Não vou dizer que nunca vou escrever para o horário nobre
porque sou funcionária de uma empresa. Mas não tenho vontade. Fiz quatro tramas
como colaboradora do Walther Negrão e ele costumava falar que não tinha nem
roupa para escrever novela das oito. Eu também não — brinca.
Aos 63 anos, Elizabeth diz que o principal folhetim da noite “é
coisa para o João Emanuel Carneiro” — autor de “Avenida Brasil”, na faixa dos
40 anos.
— Gosto do meu horariozinho das 18h onde posso fantasiar e
escrever uma história do jeito que imagino. É muito estressante fazer a novela
das 21h, o produto mais importante da casa. Eu estou $pouco velha para enfrentar
isso. Quero ver a minha neta (Maya, de 3 anos) crescer — justifica.
Para escrever “Amor eterno amor”, Elizabeth conta com o auxílio
de um time de cinco colaboradoras e uma pesquisadora. Todas mulheres. Entre
elas, a filha mais velha da autora, Renata, de 36 anos, que ajudou a mãe em sua
segunda trama, “Escrito nas estrelas” (2010), e agora se tornou colaboradora
oficial.
— Eu sou centralizadora. Procuro não ser, mas tenho ciúme dos
meus personagens. Eu tinha medo de ser a cabeça numa novela. Achava que era
muito trabalho e levei anos para fazer — assume a autora, que começou na função
de colaboradora $”Salomé” (1991), de Sérgio Marques.
A estreia como escritora principal se deu com “Eterna magia”
(2007), folhetim que não foi muito bem recebido pelo público.
— O ibope não foi aquelas coisas, mas eu gostava da história.
Quando a sua primeira novela enfrenta uma dificuldade, você leva um susto. Mas
aprende. E isso me ajudou a ficar forte. Nunca pensei em desistir. Pelo
contrário. Aquilo me fez querer escrever de novo — recorda.
No ar desde 5 de março, “Amor eterno amor” vem registrando média
de 25 pontos de audiência segundo o Painel Nacional de Televisão (PNT) do
Ibope. E bateu a marca dos 29 pontos no último dia 15. Na primeira avaliação da
trama junto aos telespectadores, um pedido chamou a atenção: o público queria
ver mais beijos entre Rodrigo (Gabriel Braga Nunes) e Miriam (Letícia
Persiles).
— As pessoas torcem muito pelo casal. Precisava criar isso antes
de trazer a Elisa
de volta — explica ela, prometendo mais conflitos: — Agora,
vou soltar tudo. A rivalidade entre Rodrigo e Fernando (Carmo Dalla Vecchia)
também cresce.
História romântica com forte destaque para a espiritualidade —
uma das assinaturas da autora —, “Amor eterno amor” também apresentou ao
público as crianças índigo e cristal, consideradas seres sensíveis, como a
menina Clara (Klara $). O folhetim investe ainda em merchandising social com
uma campanha em busca de crianças desaparecidas:
— Desde “Eterna magia” eu pensava nesta questão da
espiritualidade, sobre a ligação do ser humano com o divino. Em “Escrito nas
estrelas”, um dos protagonistas (Daniel, papel de Jayme Matarazzo) morria no
primeiro capítulo. Eu me interesso pelo tema e fui me aprofundando sobre
assuntos como reencarnação e vida após a morte. Eu acredito profundamente em
tudo o que boto na novela. Mas não falo de uma religião específica.
Para a autora, o público das 18h quer fantasiar. E ela investe
em romance e “boas mensagens”.
— Não existe receita de bolo para escrever uma trama de sucesso
— pondera.
Favorável à punição de seus vilões no final, Elizabeth não gosta
de mostrar malvados, como Melissa (Cassia Kis Magro), triunfando o tempo todo.
— Eu não os deixo conseguir tudo o que querem. Acho que eles
precisam sofrer um pouco ao logo da história — conta.
Hoje, o ritmo de trabalho é intenso, mas a autora já faz planos
de ir para um spa depois que a trama acabar. Ela diz ganhar peso enquanto seus
folhetins estão no ar.
— Eu não subo na balança para não me deprimir. Mas sei que
engordei pelas minhas roupas e pelo espelho. Sou louca por amendoim e gosto de
comer bobagem enquanto assisto à novela. Adoro um queijinho bem gorduroso com
torrada, uma batata frita, um refrigerante — enumera.
Apesar de não fazer dieta, ela não abusa. Elizabeth bebe um copo
de suco de limão ainda em jejum, diariamente — ouviu dizer que emagrece —, e só
toma café preto acompanhado de uma fruta uma hora depois. Ela acorda às 5h30m
e, às 6h, já está trabalhando. Por volta das 13h, faz uma pausa para caminhar
na orla com Marcelo, seu personal trainer há oito anos. Aproveita ainda para
resolver questões domésticas. E almoça um sanduíche ou uma salada. Às 18h, para
tudo para assistir a “Amor eterno amor”. Uma vez por semana, come uma massa
pedida de um restaurante.
Noveleira desde sempre, Elizabeth ainda consegue acompanhar a
atual trama exibida às 19h.
— Adoro “Cheias de charme”. Sempre gostei de novelas. Mas não
consigo ver “Avenida Brasil” porque no horário já voltei ao trabalho — conta
ela, que dorme por volta das 23h.
Apesar de não ter vontade de escrever uma história para a faixa
das nove e de já pensar na próxima trama para as 18h — ambientada na Bahia —,
ela assume ter outras vontades:
— Todo autor tem o desejo de escrever minisséries. É o
filezinho.
O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário