Ela é uma exibida, adora se expor sob um decote e uma minissaia que quase nada escondem. Aline, a secretária sem pudores e sem escrúpulos de “Amor à vida”, é cheia de si. E enche de orgulho sua intérprete Vanessa Giácomo, que vibra por ser odiada pelos telespectadores. Certa de que o público da novela gostaria de esganar a mau-caráter — ainda mais agora que o caso com César (Antonio Fagundes) veio à tona e o médico deixou Pilar (Susana Vieira) para ficar com a amante grávida —, ela acha um barato as brincadeiras que sua personagem suscita na internet.
— Achei ótimo quando soube que ela era chamada de secretina no Twitter. Aline é uma cretina mesmo — brinca Vanessa, que não dá refresco à personagem: — O pior tipo de mulher é a sonsa, né? Se faz de boa moça, prestativa... Isso irrita. Mulher reconhece esse tipo. Mas tem homem que cai, que acha mesmo que a moça é boazinha. Homem cai nessa furada.
César não caiu, levou um verdadeiro tombo. Acredita que Aline é o seu sonho dourado, já que a secretária se mostrou ser aquilo que ele deseja, escondendo sua real intenção, que é se vingar.
Vanessa faz questão de não generalizar.
— Tem milhões de secretárias honestas, casadas, fiéis — frisa ela, que rapidamente pondera ao alertar que há muitas Alines espalhadas por aí: — Com sede de vingança, não sei. Mas talvez querendo se dar bem na vida, há sim.
A atriz também é direta e reta ao falar que não perdoaria uma traição:
— Se eu tenho respeito pela pessoa, não vou admitir que ela faça nada. Sou superfiel. Um relacionamento tem que ter admiração. Quando paro de admirar, não dá mais.
Com bom humor, ela conta o que faria se seu namorado, o empresário esportivo Giuseppe Dioguardi, de 37 anos, tivesse uma secretária nos mesmos moldes de Aline.
— Acho que eu ia falar: “Que é isso? Que absurdo!”. Eu pediria para ela mudar a roupa. Não ia deixar, não — diz, rindo.
Mas Vanessa explica que não tomaria essa atitude por se sentir ameaçada:
— Eu não sou insegura num relacionamento, porque acho que a gente não pode viver desconfiando de todo mundo. Só não acho nada agradável você chegar e ter uma mulher com decote na sala do seu marido.
Giuseppe acha graça da reação da namorada, com quem está há quase um ano.
— Ela é um pouco ciumenta. O meu trabalho é complicado mesmo, não é fácil para ela. Nessa profissão a gente vê de tudo — diz o empresário.
Por outro lado, namorar uma atriz também é descortinar um mundo novo para ele, que garante não ter problemas com as cenas mais ousadas de Vanessa com Fagundes, que sempre foi o ícone do galã.
— Faz parte do trabalho, não vai ser a primeira nem a última vez que ela vai passar por isso. Vejo tudo com muita tranquilidade, dou a maior força para a Vanessa, acho uma honra ela contracenar com esses grandes atores. É aproveitar para aprender sempre — discursa Giuseppe, que chegou a brincar com a amada na ocasião em que Aline pediu dinheiro a César alegando ser para uma tia doente: — Eu disse a ela: “Quando você encontrar com Aline, diz a ela para pedir dinheiro a César e, depois, me ajudar a comprar jogadores”.
Bem diferente de sua personagem, Vanessa tem um estilo mais reservado, é daquelas que não fazem estardalhaço com sua vida pessoal. Talvez seja o DNA de menina do interior (ela nasceu e cresceu em Volta Redonda) que não se deixou influenciar pela roda viva do Rio de Janeiro. Mas por baixo do verniz da discrição, entregam as amigas, se esconde uma mulher para lá de serelepe, a que só os mais íntimos têm acesso.
— Dou risada com a Vanessa o tempo todo. Ela é uma ótima imitadora. Imita a cantora Paula Fernandes como ninguém. Se você fechar os olhos, acredita que é a cantora — conta a amiga Raphaela Leite, de 35 anos, moradora do Rio e conterrânea da atriz.
Também de Volta Redonda e amiga de Vanessa desde a infância, Lívia Pires, de 30 anos, conta que, na adolescência, se divertia com o jeito irreverente da atriz.
— A gente morria de rir quando ela vestia umas roupas cafonas e ameaçava sair assim para a rua. Como éramos quatro amigas, brincávamos que formávamos uma gangue. Nós nos divertíamos demais. Íamos para o clube dançar e tínhamos uma veia funqueira — relembra Lívia, toda saudosa.
VILANIA A TODA PROVA
Se em “Morde e assopra” (2011) Vanessa flertou de forma cômica com a vilania, na pele de Celeste, a atriz considera Aline a sua primeira malvada clássica. E ela buscou inspiração no cinema para dar esse ar a sua secretária.
— Eu vi muitos filmes de época com Bete Davis, Barbara Stanwyck. Acho que elas têm uma coisa clássica de não apelar, de ir mais pelos olhar, não serem muito explícitas. Menos gestos e caras e bocas, entende? Aline é uma personagem difícil de fazer, porque não posso entregar o jogo de cara, tenho sempre que segurar e conter as emoções — analisa a atriz.
Com nove anos de carreira na televisão, Vanessa conta que nunca se deslumbrou com a fama e credita seus sucessos profissionais à postura discreta que sempre adotou.
— Eu tenho o meu pé muito no chão. A gente tem que ter a nossa vaidade no limite, porque se você ultrapassa, se o seu ego fica à frente de qualquer personagem e até de você mesmo, perde-se a noção da realidade. Você pode achar que a coisa mais importante do mundo é estar estampada em todas as capas de revistas, ser o foco das atenções o tempo inteiro. Mas é preciso lembrar que esse é um trabalho como qualquer outro. A única diferença é que passa na televisão — simplifica a atriz, que cita Tony Ramos, Gloria Pires e Antonio Fagundes como exemplos de pessoas discretas: — Eu olhava pessoas como eles, que eu sempre admirei e que levam a vida mais quietos e pensava: “Então é por aqui que eu quero ir, é dessa fonte que eu quero beber”.
Apesar de encarar os holofotes com tranquilidade, a atriz confessa que, no início, ficou assustada com a grande repercussão de “Cabocla”.
— Comecei muito menina (aos 21 anos) e não esperava aquele sucesso todo. Ficava assustada com o assédio. As pessoas me olhavam na rua e eu pensava: “Gente, o que será que está acontecendo?”. Até eu entender que era por causa da novela, demorou um pouco — conta ela.
Hoje em dia, Vanessa comemora a maturidade adquirida e os benefícios que ela traz. E garante que não teve nenhum problema ao entrar nos 30 anos, a idade das crises.
— Eu não tenho o menor problema com a velhice. Acho que cada fase é uma fase mesmo. A gente tem que aproveitar, saber curtir, lidar com ruga, cabelo branco... Acho que é normal, natural da vida”, discursa.
RESERVAS COM A FAMÍLIA
Vanessa volta a ficar tímida quando é perguntada se pretende se casar novamente (por oito anos, ela foi mulher do ator Daniel de Oliveira, com quem teve dois filhos: Raul, de 5 anos, e Moisés, de 3).
— É claro que quando você está com uma pessoa ao seu lado, planeja-se a vida. Mas isso é uma coisa muito nossa, íntima — desconversa a atriz, que não minimiza a importância de Giuseppe: — Ele é muito especial, esteve comigo em momentos imprescindíveis da minha vida.
O amado retribui à altura.
— Vanessa e eu nos conhecemos há muito tempo. Mas nosso reencontro só aconteceu há um ano. Ela é linda, sincera, carinhosa, alto astral, faz com que me sinta bem a seu lado. É a primeira mulher sem defeito. Já procurei e não acho. Vanessa tem uma alegria que contagia, todo mundo sente isso — declara-se Giuseppe.
Um dos momentos compartilhados pelos dois, recente e triste, foi a morte da mãe dela, Ivonete. Há sete meses, ela perdeu a batalha para o câncer. Muito ligada à mãe, Vanessa demonstra ainda sentir a perda de maneira muito forte.
— É muito delicado, né? E, realmente, a minha mãe era muito próxima de mim. É um sofrimento que você tem que lidar constantemente, para o resto da sua vida. É uma saudade eterna que nada substitui. Não adianta ter muito trabalho, não adiante só brincar com os filhos. Nada! É um buraco, é um vazio que fica na sua história — emociona-se.
Mas ela toca em frente. Busca ânimo e volta a sorrir quando fala sobre seu ritual antes de entrar em cena. E, de quebra, confessa uma de suas qualidades mais marcantes, às vezes encarada como defeito.
— Faço uma oração antes de gravar, para proteger todo mundo e fazer com que o trabalho flua da melhor maneira. Meu maior defeito é ser sincera demais. Eu falo tudo. Se alguém me pergunta algo, eu vou falar o que eu acho. Só que, às vezes, as pessoas não querem ouvir a verdade. Acho que isso acaba sendo um defeito. Não consigo me controlar, principalmente quando eu gosto da pessoa e quero falar para ela melhorar. Eu não sou de passar a mão na cabeça de ninguém e dizer: “Ah! Não, tadinho, vai sofrer...”. Não! É isso? Vai sofrer? Então tem que sofrer agora, já foi, já contei. Acho que sofro de sincericídio (risos).
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