Conversar com Elizabeth Savala é rir o tempo todo. A atriz tem o dom de deixar o papo tão descontraído, que a sensação é a de ser sua amiga desde o berçário. Nada mais natural, então, do que perder a noção do tempo durante a conversa. “Meu Deus, já está na hora da novela? Nem me dei conta”, exclamou a intérprete da divertida Márcia, a ex-chacrete e mãe da espevitada Valdirene (Tatá Werneck), de “Amor à vida”. “Sagitariana é assim, minha filha, se deixar fala até o outro dia (risos)”. Com tiradas imprevisíveis, recheadas de muito humor
— “Meus pais eram primos de primeiro grau, por isso eu não podia ser muito normal” — a atriz de 58 anos fala sobre vaidade, casamento e filhos.
Extra — Márcia tem feito um tremendo sucesso. Você se lembra da sua preocupação inicial, de não saber como fazê-la?
Elizabeth — É porque não queria fazer um estereótipo, um personagem caricato. Queria dar vida a uma mulher verdadeira, batalhadora, que tivesse profundidade. E acho que o público percebeu isso. Agora, com a rotina da gravação e o controle maior do personagem, o lance é pegar devagar para não errar na mão e continuar seguindo o caminho certo. Estou extremamente feliz por ela ter caído no gosto popular.
O que tem ouvido nas ruas?
Como o volume de trabalho está enorme, quase não tenho saído. Nas poucas vezes que fui à rua, as pessoas me diziam: “Tem cuidado com Gentil (Luís Melo) que ele está aprontando” ou “Gentil não vale nada, olha lá!”. O problema é que Márcia tem aspirações românticas. No fundo, ela é ingênua. Aconselha a filha a dar golpe em milionário, porque não quer vê-la sendo seu espelho, mas sonha em se casar por amor, morar junto e ser feliz.
O engraçado é que, na vida real, você e seu marido, Camilo, estão há 27 anos juntos, oficializaram a união há dois, só que moram em casas separadas.
A gente, agora, está num outro momento. Como Camilo está alugando o apartamento dele, sugeri que ficasse comigo por um tempo, até encontrar outro lugar. Só que ele não está achando nada. Então, a gente está vivendo junto há dois meses e eu estou percebendo o quanto é bom ter um homem em casa. Estamos nos vendo pouco por conta da loucura dos horários do meu trabalho, mas quando chego, é bom encontrá-lo. Ele esquenta o jantar (nesse momento, coincidentemente, Camilo a chama para comer a sopa que acabara de esquentar) e cuida de outras coisas da casa. Estamos em lua de mel.
Já que tomou gosto, vão passar a morar juntos de vez?
Na vida nada é definitivo. Gosto que ela seja como uma novela: não se sabe o que vai acontecer. Estamos curtindo essa fase. Gosto de saber que tenho alguém, não precisa estar grudado como carrapato, mas é bom ter uma referência, alguém que possa chamar de meu.
Você já declarou que não é vaidosa e...
Zero. É até um paradoxo eu ter personificado a vaidade na novela “Sete pecados”, em 2007. Em casa, só uso aqueles camisolões de algodão, que tem umas bonequinhas na frente, sabe? Se tiver que receber o encanador, o pedreiro ou jogar o lixo fora, é assim que fico. Meus filhos vivem brigando comigo e me dando camisolas de seda de presente. Também não sou muito fã de maquiagem. Odeio rímel, para mim é feito de graxa. Não entendo como as meninas passam umas dez camadas daquilo. Cílio postiço me incomoda, não consigo chorar. Faço depilação, porque é a faxina, e pinto o cabelo. Faço unha, mas acho um saco ficar com a mão parada. É até engraçado. Se você olha a minha mão, está uma beleza, as unhas pintadinhas. Já o pé... uma vez por mês dou uma desencravadinha na unha.
Mas você não passa nem um creminho?
Não, detesto. Tenho uma nora dermatologista que diz para eu passar protetor solar. Se creme fosse bom, não tinha pessoa velha. E já ouvi de um cirurgião plástico uma coisa interessante: “A velhice é injusta com as mulheres bonitas e generosa com as feias, porque ficam todas iguais”.
Mas como fica o marido? Ele não reclama?
Fica tudo igual, ele não liga. Claro que gosta de ver a mulher arrumada. Outro dia, foi muito engraçado. Eu estava chegando da rua e, como fazia frio, estava mais alinhadinha. Ele olhou e brincou: “Epa, onde é que você estava?”.
Respondi, gaiata: “Não vou te contar, você nem sabe...” O fato é que já vimos cada coisa um do outro, que Nossa Senhora... (risos).
Então, você não tem problemas com a passagem do tempo.
Minha geração mudou muitos preceitos. A velhice foi um deles. Antes, uma mulher de 60 anos era anciã. Hoje, muitas estão umas gatas. Há poucos dias, o contador que trabalha comigo há 40 anos, me deu uma bronca por ter me ouvido brincar que estava velha. “Você está linda, gostosa, não tem nada de velha. Está muito bem”. Acho que estou mesmo, tenho a pele boa, não passo nada na cara... Seria um saco viver em função disso. O que faço há dois anos é reposição hormonal por conta da menopausa. Porque sentia que vivia numa TPM eterna com calores, palpitação, nervosismo. Para mim, a reposição funcionou.
Pelo visto, plástica nem pensar, não é?
Olha, talvez eu tire as bolsas debaixo dos olhos. Vou ver com meu médico se há mesmo necessidade. É que elas estão quase um peito (risos). Mas não vou fazer nada no rosto que me descaracterize. Morro de medo. Se for fazer, tem que ser uma coisa leve, porque o público também não merece ficar vendo minhas pelancas caindo. Quero ter a cara maleável para servir aos personagens.
Acredita ser difícil ter bons papéis a partir de uma certa idade?
Acho que aquelas que servem aos personagens continuam trabalhando. Óbvio que não é mais a estrela, tudo tem a sua idade certa, momento de ser mocinha, antagonista, vô, bisavó... Eu adoro fazer vilã, não tenho problema em fazer maldade em cena. Mocinha é cansativo, você chora da primeira à última cena e vai chorando para casa com pena de você mesma (risos). Eu não aguento cristal japonês e as lágrimas caem menos com a idade, então, vai ficando difícil se desmilinguir.
Você tem quatro filhos (frutos do casamento de 11 anos com o ator Marcelo Picchi). Nunca teve vontade de ter uma menina?
Não, o que queria era ter filho, porque tive toxoplasmose quando adolescente e os médicos disseram que eu não poderia ser mãe. Só que aos 20 anos, veio o Thiago. E quando ele estava com cinco meses, engravidei do Diogo. Desejei que fosse menino para fazer companhia ao irmãozinho, que nem teve tempo de ser o único. Dois anos depois, vieram os gêmeos Cyro e Tadeu. Para quem não podia ter filhos, fui muito abençoada.
Ao se unir a Camilo, a família ficou maior, não?
Verdade. Os meus quatro mais os dois do Camilo. Através de um dos filhos dele, ganhei minha neta, a Valentina, de 2 anos. Quando nos encontramos, é uma diversão só. Tenho um problema: minha idade cronológica não combina com meu interior. Tenho 12 anos, na verdade (risos).
Nenhum comentário:
Postar um comentário