quarta-feira, 14 de novembro de 2012

CRÍTICA: 'Remakes' são boas chances para as novas gerações



A Globo Marcas lançou uma caixa com os dvds de “O Bem-Amado”, escrita por Dias Gomes em 1976, e um sucesso estrondoso da TV Globo. Com direção de Régis Cardoso e supervisão de Daniel Filho, foi a primeira novela a cores da televisão brasileira. Como explica Daniel nos extras, a produção inaugurou também a prática da emissora de exportar sua dramaturgia. De acordo com ele, a história “ficou conhecida no mundo inteiro”.
O fato é que “O Bem-Amado” está na memória dos telespectadores de então. Foi mesmo um ponto de inflexão na nossa teledramaturgia. Quem nasceu depois ou não tinha idade para acompanhar na época não conhece Sucupira. Daí a importância dos remakes: proporcionar às novas gerações a chance de provar uma iguaria já servida, porém ainda atraente. Não fizeram um remake de “O Bem-Amado”, mas poderiam. Se vierem a fazer, a ação terá que ser repensada. Provavelmente aproveitariam os grandes tipos e o enredo central. No mais, a adaptação exigiria um redesenho radical. Qual é a dúvida de que essa história merece ser recontada (para ser justa, vale lembrar que ela até foi, no cinema, em 2010, por Guel Arraes)?
E a caixa com os dvds? A quem ela serve melhor? No caso de “O Bem-Amado”, aos saudosistas, aos estudiosos, aos diletantes. Para constatar, basta ver o primeiro capítulo, o que tradicionalmente apresenta o enredo e os personagens. O ritmo é muito, mas muito diferente daquele a que estamos acostumados hoje. Aos olhos de 2012, tudo parece arrastado. São longos minutos de uma primeiríssima cena, com o sino da igreja repicando, obra do sacristão, também interminavelmente focalizado. Depois vemos a procissão de Iemanjá, barcos, oferendas indo e vindo ao sabor das ondas. Odorico Paraguaçú (o grande Paulo Gracindo) finalmente faz sua primeira aparição num dos veleiros, com um cartaz ao fundo, anunciando seu nome para a prefeitura da cidade. Na igreja, vemos a chegada do padre, Rogério Fróes, que assiste ao trabalho do sineiro por compridos segundos até falar a primeira frase.
“O Bem-Amado” é só um pretexto para falar de remakes, uma discussão que anda muito em voga. Não é qualquer história que se presta a uma atualização, e um exemplo disso é “Guerra dos sexos”, novela das 19h cuja versão atual nem de longe empolga como a original, que marcou. É o mesmo caso de “Gabriela”, que tentou repetir, sem ousadia, algo que a Globo já tinha feito. Por isso passou sem qualquer brilho.
Isso não significa que a televisão e o cinema não estejam repletos de boas produções revisitadas com êxito. Para que a operação dê certo, é preciso sensibilidade para acertar na escolha. Feito isso, a grande missão está na busca do frescor. Há inúmeros bons exemplos. Só para citar alguns: “Ti-ti-ti”, “O Astro”, “Pecado capital”, “Irmãos coragem”. Todas histórias inesquecíveis que ganharam remakes muito felizes. Na TV americana, temos “Dallas”, “Hawaii 5-0” e milhões de outros. No teatro, Romeu e Julieta continuam aí dispostos há séculos.

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